quarta-feira, 23 de abril de 2014

ontem mataram 3 mininu ali
eu tava em algum canto
mas nem tava ai
cheguei tão tranquila
que até me esqueci
da realidade cruel daqui
me estranhei desse assunto
duvidei me invoquei
deitei pra dormir
e então sonhei

o pesadelo tão real ganhou cena na minha noite
os mininu tinha roubado
não eram da quebrada
muito menos eram ligados
não conheciam ninguém
eram filhos de quem tem
e queriam usar o seu beck, pino, pedra ou mesclado

outro dia foram outros 3
trabalhadores, estudantes, brancos e pretos
nem era pra saberem
e eles dizem que nem é preconceito

nos barracos de madeira
nas casinhas pré-feita
moradores periféricos
marginalizados como defeito

sociedade aplaude
pra bandido tem que ter morte
a mídia reafirma
que é tudo merecedor desse destino

a noticia incansavelmente avisa
levou tirou um possível traficante
16 anos aterrorizante
De mochila e marmita
Nem deu tempo de sentir a vida

Seja ladrão ou não
Nem importa o que é que seja
Correu de medo à toa
Foi mirado e acertado o suspeito

Suspeito ou não
Nem é novidade que nada se resolve
Se é ser humano se esquece
Mira o alvo e o apodrece

Bombardeados noite e dia
A revolta vira briga
Vira pixo
Vira roubo
Vira grupo
Vira tiro

o porquê dos jovens ninguém quer entender
como de praxe é de se saber
que não há maneira assim de se compreender
foi tiro pra todo lado
pancada, açoite por causa de assalto

os corpos foram espalhados
um para cada canto
encontrados espancados
na favela do Moinho
é PAVÃO-PAVÃOZINHO
mais um morto
um mininu

dormi e acordei
como se nada tivesse acontecido
como fuga de mim mesma
pensei até em desistir da luta

é mentira pra tudo que é canto
política e ideologia ruim
de Brasília a periferia
cada um defende o seu
em fumaça, morte e adeus
tudo farinha do mesmo saco
tudo da mesma laia

é policia maldita, bandida e fria
bandido protetor, sem perdão na fissura
político interesseiramente falso, matador, criminoso
a guerra só continua
e nóis aqui na rua
e nóis aqui na briga

um pouco de tudo se articula
já não se sabe por qual rua se deve entregar
não entendemos o caminho sério
nem a ladeira certa pra olhar

tem que chegar devagar
deixar o sangue esfriar
deixar o sangue escorrer
confiar é algo raro
já tá tudo estragado
já ta tudo dominado

é conversa mole de social
blá, blá de amor a favelado
mas quando cai nela e anda errado
pei! se não tomar cuidado
os cara tão esperto
tudo bem organizado
tão de gravata, muleta e armado

dá boi não tio
se não tu vai tomar susto
daquele que bate no peito
e tu some desse mundo

é tipo Amarildo, Claudia e os mininu
tudo morto como bandido
tudo arrastado sem dó
tudo sumido na calada
tudo eternizado na favela

na ladeira escorre choro
nos escadões desce um amigo sozinho
menos um mininu
menos um irmão, um filho

a revolta e impotência nos assola
a vontade é de que tudo isso se exploda
mas acredite ainda assim
por mais que pareça com fim
se esse sentimento existe é porque há esperança aqui

como oração a gente repete e sonha
que o que hoje é utopia
seja verdadeiro um dia
e mesmo que não exista um mundo lindo e melhor
que façamos um hoje mais suportável
mais feliz

andemos descalços, de sandália ou chinelo
em parceria subindo qualquer beco
que a fé venha com força
e que tudo que nos magoa
seja combustível pra ser mais corajoso

seja pro moleque, pra véia, pro irmão
haja transformação pra esse mundão
e que os passos sejam mais certeiros
que tiro na mão de moleque ladrão
ser humano arrastado pelo chão
por quem é do mesmo ser animal

que sabe assim afinal
ai invés de um arsenal
seremos só nós em paz
sem ladeiras sangrentas
sem morte que de pena
sem bonzinho sem ladrão
sem político com oficio
sem corrupto bandido
sem ilusão
de que a vida
é só gente jogada nas vielas
no chão

que pesadelo seja somente um sonho de uma noite ruim
se somos seres humanos que nos vejamos com tal
que não sejamos hipócritas vendo um mundo perfeito
que façamos a luta no hoje
amemos a nós mesmos primeiro
e que lutemos para um tempo bom e real

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