"Hoje apetece-me abraçar. Abraçar. Sem olhar a quem, ao Zé-ninguém e ao
coitado que se julga alguém. Abraçar. Com força, com ternura. E até com
suor ou lágrimas. Abraçar. Como se os abraços acabassem já amanhã. Ou
hoje. Ou daqui a pouco. Abraçar. Fazer do abraço o novo “olá”, fazer do
abraço o novo “passou bem”. E passar realmente bem. Abraçar. Um abraço
que não passasse. E que me deixasse passado. Há dias em que me apetece
abraçar. E tardes em que me apetece abraçar. E noites em que me apetece
abraçar. Passar um dia inteiro a abraçar. Sair de casa e abraçar. O
velho que se senta, acabado, no jardim. O jovem que corre, aluado, no
recreio. A adolescente que namora, excitada, na esquina. E os adultos
que andam, sem saber para onde, na vida de uma rotina. Abraçar. Um dia
inteiro a abraçar. Eis um dia bem passado."
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