Sob o quente do edredom e do corpo
Deixo os pés após o banho ainda molhados
Buscando desapego
Despreocupação de ser
Beijo o primeiro amor
Como se nunca tivesse acontecido
Como se fosse uma vez ímpar e nunca mais
Jamais acredito nele
Seja ele pessoa, sentimento ou os dois
Se somos loucos ou adoráveis
Vingadores e implacáveis
isso ninguém sabe
ninguém irá nos dizer
No quarto há uma luz lá fora na escuridão
Me atrevo mais uma vez a ser poeta
Desconexa
Lembro da timidez
Buscando outra vez
Estar perto
Do que sei dele
Nem mesmo quem viveu o sabe
Recordo de passagem
Na avenida
De dentro do ônibus, nas esquinas
Ele nunca me via
Me lembro voltando a rua como quem não quer nada
Como quem esquece
Só para ver de novo
O sol avermelhar a sua face
Dos muros durante muitos anos pela cidade
Eu fingia ter mudado
E não olhar mais para os becos, muros, berais e prédios
Prometi não olhar para o lado.
Da falta dele na carteira da escola
Minhas lágrimas de mocinha
Que da vida nada sabia
Muito menos o que viria
De lá pra cá então
Aqui cheguei eu
Com um pouco mais de experiência
Pouco mais de esperteza
Pouco mais de inteligência
Os relógios, dias, meses e anos mudaram muito
Assim como os amores
Assim como quase todos
E eu que jurava não haver mais qualquer encontro
Escrevo essas palavras pra registrar o teu canto
Beijo
Surpresa
Alento
Desencanto.